TESOURO
ABRE SAÍDA PARA INVESTIDORES EM TÍTULOS
Para diminuir os prejuízos que investidores vêm
sofrendo nas aplicações em títulos públicos por causa da volatilidade no
mercado, o Tesouro Nacional realizou leilões de recompra de papéis nos últimos
dois dias. Ao contrário da primeira rodada desses leilões, realizada em junho,
desta vez a adesão dos investidores foi expressiva.
O Tesouro se propôs a recomprar no mercado até oito
milhões de papéis prefixados (NTN-F e LTN) nos leilões realizados na
segunda-feira e ontem. Do total, houve resgate de cerca de 4,9 milhões de
títulos, mais da metade dos papéis ofertados.
O segundo furacão que atingiu os mercados de renda
fixa globais em apenas três meses não estava no horizonte dos especialistas e
deve impor uma nova onda de perdas para os detentores dos títulos de dívida
pública brasileira. A percepção é que, desta vez, a chacoalhada dos juros, no
exterior e aqui, colocou muitos agentes em uma situação ainda mais
desconfortável do que a vivida ao longo do mês de junho.
Diferentemente do que se viu na última rodada de
mau humor no mercado de renda fixa, os leilões de recompra de títulos
promovidos pelo Tesouro Nacional esta semana contaram com expressiva adesão de
investidores. O volume recomprado nas duas operações realizadas nos últimos
dias foi considerado robusto. O Tesouro se propôs a recomprar, ao todo, até 8
milhões de papéis prefixados (NTN-F e LTN) nos leilões realizados na
segunda-feira e ontem. Houve resgate de cerca de 4,9 milhões de papéis.
Isso mostra que, desta vez, a intervenção não
serviu apenas para dar parâmetros de preços a um mercado instável, mas para
garantir saída efetiva aos investidores que amargam perdas em suas posições.
"Tanto em maio deste ano quanto em 2008, quando o Tesouro lançou mão desse
instrumento para acalmar o mercado, a real necessidade de venda de papéis pelos
investidores mostrou-se muito pequena, e o Tesouro atuava apenas para dar um
sinal de que estava atento", explica um especialista. "Desta vez,
ficou evidente que havia investidores locais com necessidade de encerrar suas
posições e limitar as perdas, ao preço que fosse."
Profissionais relatam que parte do mercado que
carregava títulos prefixados em suas carteiras montou operações de proteção
("hedge"), temendo a volta da instabilidade. Essas oscilações
poderiam vir, por exemplo, da necessidade de um aperto monetário mais vigoroso
por parte do Banco Central (BC), diante da inflação mais salgada. Para se
proteger desses ajustes nas taxas de juros, investidores assumiram posições
"compradas" em juros futuros - aquelas que garantem ganho quando a
taxa Selic sobe. Mas muita gente, apostando na ideia de que a atividade
econômica fraca limitaria o aperto monetário, deixou de se proteger. E, agora,
essas instituições e investidores foram pegos no contrapé com a volatilidade
inesperada. "Ninguém contava que o juro das Treasuries [títulos do Tesouro
dos Estados Unidos] dispararia dessa forma sem que surgisse um fato novo",
explica um especialista. "Fomos todos pegos no contrapé por esse
movimento."
A perspectiva de mudança da política monetária
americana continua sendo o pano de fundo para as movimentações nos mercados de
renda fixa. A diferença é que a deterioração que se viu a partir do fim de maio
foi provocada por declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco
Central dos EUA), Ben Bernanke, sinalizando a proximidade da redução dos
estímulos monetários. Na ocasião, o rendimento da Treasury de 10 anos saiu da
casa de 1,70% para perto de 2,50% em poucos dias. Desta vez, sem que qualquer
notícia tenha surgido, uma nova disparada de juros agitou os mercados. Na sexta-feira,
a taxa do papel do Tesouro americano alcançou 2,80% e, na segunda-feira, testou
o nível de 2,90%, provocando uma nova onda de realocação de portfólios pelo
mundo.
Aqui, a taxa do contratos futuro de Depósito
Interfinanceiro (DI) com vencimento em 2017, um dos mais líquidos, subiu quase
30 pontos-base (0,30 ponto percentual) na segunda-feira: indo da casa de 11,60%
para perto de 11,90%. Essa alteração de patamar provocou uma mudança abrupta
nos preços dos títulos públicos. Assim, os papéis prefixados (com vencimento
superior a um ano) tiveram desvalorização de 0,59% em um único dia e de 2,24%
no acumulado do mês. Já os papéis atrelados a índice de preços, as NTN-Bs,
perderam 0,87% no dia e 3,91% no acumulado de agosto.
Ontem, com o alívio no mercado de juros futuros da
BM&F, as perdas acumuladas no mês devem ter diminuído com o recuo das
taxas. O derivativo para janeiro de 2017, por exemplo, cedeu e fechou a 11,52%
(ante 11,84% anteontem). Além do recuo ontem das taxas das Treasuries e do
dólar em relação ao real, a própria operação de recompra de títulos contribuiu
para uma queda das taxas dos DIs. Entre os contratos mais relevantes, o DI com
vencimento em janeiro de 2015 encerrou o pregão a 10,26% (ante 10,66%
anteontem). Apesar do movimento de ontem, os juros futuros ainda exibem prêmios
bem superiores aos vistos no início de agosto.
Além de prejudicar os investidores, a situação
também é desconfortável para o Tesouro. Com menos apetite por papéis prefixados
e com as operações de recompra desses títulos, cresce o risco de serem
descumpridas algumas das metas estabelecidas para a dívida pública neste ano no
Plano Anual de Financiamento (PAF). O quesito mais afetado deve ser a
composição da dívida - uma vez que ofertas de LFT, papéis pós-fixados, foram reforçadas
nas últimas semanas. "Existe o risco de o Tesouro ficar nos limites
mínimos este ano", afirma um especialista. (Colaborou Antonio Perez)
Autor(es): Por Lucinda Pinto | De São Paulo
Valor Econômico - 21/08/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário