Inflação: entre o possível e o provável
Não está fácil criar cenários e fazer previsões no
Brasil. Não há modelo econômico que consiga medir o tamanho do risco que a
governabilidade (ou a sua implosão) impõe ao país. Ainda assim os economistas
tentam e conseguem preencher suas planilhas. Não estou desmerecendo o trabalho
deles, ao contrário. Até porque, com estas estimativas calibramos a expectativa
individual, num movimento que acaba confirmando, ou não, a trajetória da
economia.
Quer ver como funciona? Na pesquisa Focus da semana
passada os analistas esperavam que o IPCA fechasse o ano em 6,52%. Apenas uma
semana depois este número caiu para 6,49% - o que significa que o índice de
preços voltará para dentro do sistema de metas de inflação que, por sua vez, é
balizador essencial da formação das expectativas. Quando olhamos para o dado da
semana anterior, passamos a acreditar que seria bem provável que o IPCA
voltasse para limites do sistema. Agora, acreditamos que é bem possível que
isto realmente aconteça.
A meta de inflação virou um símbolo importante para
nos mostrar em que pé caminha a economia brasileira. O sistema tem, entre
outras funções, a de promover a previsibilidade, mesmo quando ela aponta tempos
ruins. A adesão à meta é um sinal bastante positivo de como o brasileiro não
aceita mais correr riscos com a estabilidade da moeda. O modelo adotado aqui
permite que o IPCA flutue numa banda de até dois pontos percentuais para cima
ou para baixo. Mas a meta a ser cumprida é a central, que desde 2005 é de
4,5%.
A última vez em que o BC cumpriu seu mandato foi em
2009, quando a inflação fechou em 4,31%. De lá para cá, o IPCA ficou
perigosamente perto do teto de 6,5%, até estourar o limite e fechar em 10,67%
em 2015. Olhando mais para trás, a inflação oficial não refletiu com precisão o
que acontecia no mercado porque o governo de Dilma Rousseff controlou preços
importantes como energia, combustível e dólar. Sem as distorções geradas pela
petista, o estouro do IPCA teria acontecido já em 2014 e evitaria que os
choques da liberação dos preços em 2015 fossem tão altos.
O IPCA que tivermos em 2016 será, tampouco, fruto
de um ambiente mais organizado. A queda da casa dos 10% para a casa dos 6% em
um ano é um movimento muito brusco e só foi possível pelo aprofundamento da
recessão e do desemprego. O processo de desinflação nos custou caríssimo –
ainda custa. A taxa de juros nas alturas por tanto tempo serviu para evitar uma
alta ainda maior da inflação e, tão grave quanto isto, impediu que as
expectativas sobre o futuro se perdessem no oceano das incertezas – pelo menos
no que diz respeito à estabilidade da moeda.
Voltando ao “como funciona” a formação das
expectativas, a partir dos números revelados pelo boletim Focus constatamos que
o BC não tem mais porque soltar a taxa de juros a conta gotas. A
previsibilidade de um ano menos pior do que 2016 precisa atuar fortemente se
quiser ajudar na recuperação da economia. Até porque, para 2017 os economistas
preveem um IPCA de 4,90% - ainda mais perto da meta. É muito provável que este
número se confirme. Mas é também possível que ele melhore, dependendo da
atuação do BC com a taxa de juros.
Do Blog da Thaís Herédia